segunda-feira, 25 de abril de 2011

A política de volta às telas

Dicas de cinema
A política de volta às telas


Desde o final dos anos 70, a política foi lançada ao esquecimento na produção artística. A invasão cultural promovida por Hollywood e por toda a indústria do entretenimento, com seus enlatados, trouxe aos nossos lares, uma arte completamente esvaziada de temas sociais, de realismo, de qualquer análise, interpretação ou representação profunda da sociedade.
Durante os últimos trinta anos, falar de política se tornou démodé. Fazer arte política, uma eresia. Mas, atualmente, muitos artistas - alguns ainda remanescentes da efervescência artístico-cultural que a América Latina viveu nos anos 60 e 70, outros jovens cineastas que retomam o que houve de progressista e revolucionário no cinema – tem retomado a política como tema, processo e ideologia de um fazer cinematográfico.
Dentro de esta vertente, é possível citar algumas boas obras que valem a pena ser vistas. A primeira e mais surpreendente é o documentário francês Qu'ils reposent en révolte (des figures des guerres)”, em português “Quem é responsável pela revolta”, do diretor Sylvain George.
A obra é resultado de três anos de trabalho e convivência do diretor na fronteira entre França e Inglaterra, chamada Calais. Um lugar que se tornou refúgio e porta de entrada de milhares de imigrantes, vindos, principalmente da África. O filme, numa abordagem simples e direta, mostra as estratégias de sobrevivências dos imigrantes, suas condições de vida e a repressão efetuada pelo governo francês. A obra tem cenas muito fortes, como a que mostra a estratégia dos imigrantes para driblar a polícia européia, queimado suas próprias mãos, suas digitais, sua identidade. O filme é daqueles que ao final te deixam com o grito entalado na garganta e nos mostram que a sociedade não é tão perfeita como a TV muitas vezes nos fazem crer, pelo menos para a maioria do povo.
Outros filmes lançados recentemente que também merecem ser visto são Film Socialism, de Jean-Luc Godard, que nos interpela fortemente acerca do estado atual do mundo; We Were Comunist, do diretor Maher Abi Samra, é um passeio pela memória de de quatro comunistas libaneses, que contam suas histórias de luta durante a guerra civil, seus sonhos e pesadelos com a situação atual do país. Para completar a lista de filmes políticos de hoje, dois filmes argentinos: Eva y Lola, da diretora Sabrina Farji, narra o encontro de duas jovens atrizes. Mas não são quaisquer atrizes. Quando a cortina cai, elas são duas “filhas”, expressão pela qual se tornaram conhecidos os bebês roubados nos centros clandestinos de prisão e tortura do país (veja reportagem na próxima edição de AND). Um pouco mais antiga e melodramática, mas também um retrato sincero da ditadura argentina, é a produção ítalo-argentina “Cómplices del Silencio”, de Stefano Incerti.

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