terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Em cada parte de mim ou meu homem perfeito



Em cada parte de mim, eu levo um pedaço teu. Fecho os olhos, e posso sentir um cruzar de olhares e sorrisos. E, de repente, é como se eu sentisse um abraço teu novamente. No fundo, o homem ideal, pra mim, seria uma mescla de todos os que passaram pela minha vida e foram importantes.
No pulso, levo uma pulseira que me presenteou D.F, quando, doente, eu cuidava dele. Na mochila, a bússola que me regalou F, quando lhe dizia o quanto me sentia perdida no seu país. No coração, levo sempre a certeza de que H vai sempre estar aberto pra receber meu amor. E quando me deito, nua, na cama, tenho a certeza de que com J aprendi muito. Guardo o sorriso de todos e a felicidade que todos me deram, que trocamos.
A mistura perfeita teria: o cuidado de D.F, a sinceridade e a decisão de H, a militância e a decisão revolucionária de F e o sexo de J.
Sorrio. Foi a dor. Estou começando a achar que essa história de sofrer por amor vai me trazer bons frutos. Começo a retomar minha paixão por pensar e escrever sobre as futilidades tão essenciais da vida: os sentimentos e as emoções. Me acalma e me faz feliz relembrar o quanto, sim, amei e fui amada. Nem pareço mais a mesma de ontem. Ontem, sofrendo por F, reli as cartas de D.F, revi minhas fotos com H, e falei com J (a conversa foi, digamos, bastante recordatória....). E, de repento, percebo, como exagero tudo, o amor e a dor. Mas, no fundo, exagerar a dor encurta sua visita ao meu coração. Talvez não seja tão ruim assim. Exagerar o amor é mais complexo, passa a amar tudo e todos. Complexo, mas não ruim. Acho que se tem um defeito do qual eu gosto, do qual eu me orgulho, e que cultivo com muito carinho é meu jeito exagerado de ser. Nada que não seja exagerado serve pra mim.
Estou, agora, exageradamente atrasada com minhas malas. Estão aqui, olhando boquiabertas pra mim. A alma boa de Se-Chuan aberto, esperando terminar de ser lido (sugestão de leitura de F) e ouvindo Tribalistas (dos quais gostava H). Foi.

21 de dezembro de 2010
16h09
Buenos Aires, Argentina

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pra sentar no banco da praça e viver de novo um grande amor


Aqui, pensando com meus botões outra vez. A cabeça, meio ao vento. O coração, sem entender, não sabe se estraçalhado ou se foi só um arranhão. Mas não importa. Agora, a única solução que vejo para acalmar o espírito é escrever.
Às vezes fico pensando no que é que move os seres humanos em suas relações com o outro. Nós, humanos, inventamos tantos nomes e teorias pra explicar os sentimentos, mas, na maioria das vezes não sabemos vivê-los. Simplesmente não nos deixamos, não nos permitimos amar. E AMAR, é sofrer, por quê não? Quem de vocês pode dizer que sempre amou e foi amado? Quem nunca passou pela dor da rejeição? Não sei se é exatamente uma dor, talvez seja apenas um desconcerto, um desentendimento. Eu tenho sérios problemas com a noção de dor. Até alguns meses atrás dizia que nunca havia sofrido por amor e que nunca havia chorado por nenhum homem. Até que eu chorei. Até que eu sofri. Sofri uma semana. Vivendo essa dor e querendo arrancá-la à força de mim, queria escutar a voz dele dizendo que não dava. Mas quando liguei, çoele disse que me amava. Um estranhamento total. E engraçado como essas histórias voltam a se repetir tão rapidamente e tão estranhamente. No fundo, parece que todas as nossas relações amorosas são muito parecidas e daí, talvez, venha o meu depreço pela relação homem-mulher amorosa. Deprecio, mas desejo ardentemente. Sim, pode chamar de contradição, de paradoxo, do que queira. Se me perguntam o que prefiro, vou sempre dizer que prefiro ficar sozinha e não amar homem nenhum. Mas meus olhos, meus ouvidos, meu coração, minhas mãos não sabem disso. Eles siguem querendo amar e só amar. Amar até morrer de amor. Eles não tem ideia do quanto amar dá trabalho.
Meu exagero já é figurinha conhecida entre vocês, amigos, certo? Acho que deve ser uma tarefa realmente difícil gostar de mim. E, vou contar isso pra vocês em segredo, tudo bem? O meu maior medo é de não ser amada. Mas acho, realmente, que é um medo que compartilho com a humanidade. E falo do amor de uma maneira geral. Quem não gosta de receber um abraço gostoso? Um carinho, um mimo? Quem não gosta de ouvir alguém gritando “EU TE AMO”, “EU TE ADORO”! E quando penso nisso, acho que nenhum homem me disse isso verdadeiramente. Lembrem que sou exagerada, tá? Mas às vezes, sim, acho isso mesmo. Parece que depois que acaba todo soa muito falso. Lembrem-se do parágrafo anterior (o depreço por esse tipo de relação amorosa). Mas sou muito feliz quando me lembro da minha constelação de amigos. E choro desesperadamente, não vejo a hora de pegar o avião e poder gritar de novo “EU TE AMO”, “EU TE ADORO”!, de ficar de bobeira conversando sobre nada, fico pensando se há algum sentimento mais doce e mais importante do que o da amizade. Porque um amigo nunca te diz “estou ocupado”, o amigo sempre dá um jeito e cuida de você. Ah, amigos, sinto muito demais da conta a falta de vocês aqui. Com vocês, não falta nada.
E o amor, e os homens? Não sei. Acho que sou muito boa pra ser amiga de homem, não pra ser mulher. Mas a vida me pede outra coisa, me pede pra viver, pra arriscar, pra tentar uma e outra vez mais. Porque os amigos estão aí pra secar minhas lágrimas e pra me amar. Homem é pra me fazer sofrer.
Meu exagero chega a ser cruel. Relendo o que acabei de escrever, me lembrei de uma carta que recebi de um ex, há quase um ano:
“T quiero porq cuando tengo noticias d ti o una simple correspondencia mi dia cambia, se hace menos gris q cuando comenzo, eres esa razon q no tiene sentido pero aun asi estremece mis sentidos, y me pregunto si es q son mis sentimientos, saber q alguien a distancia me extraña y piensa en mi me es muy grato, es como poder ver el verde d una hoja q cae para volverse ocre. T quiero por q aunq yo no me importe se q t importo y estas ahi, pero siento como si estuvieras aqui, no t escribo esto para hacerte sentir mal y distante, o porq no estoy junto a ti, solo para q sepas q aun vagas por mis pensamientos y y decirte lo maravillosa q eres, porq tu puedes cambiar mi dia, y aunq ha pasado ya bastante tiermpo para mi todo ello es como si fuese ayer. (D.F, 23/04/2009)

Sim, tudo é como se fosse ontem. Ainda posso me lembrar do sorriso de D.F e da sua maneira de cuidar de mim. Por mais que já não tenhamos notícia um do outro, acho que sempre ficará marcado em nós o que vivemos. E isso me conforta. Eu realmente escrevo na lógica reconfortante e esperançosa do humanismo. A história, claro, sempre precisa ter um final feliz. Mesmo que o feliz, no caso desse texto, seja pensar que talvez, alguém, um dia chegou perto de me amar e, principalmente, me fez muito feliz enquanto estivemos juntos.
E aí, posso sonhar, posso imaginar que amanhã vou caminhar de novo pelas ruas, sentar no banquinho daquela praça e tomar sorvete como se isso fosse a cosia mais fantástica do mundo! Depois, pensar que estou, de novo, insensatamente, vivendo um novo e grande amor, como se nunca houvesse pensado o que escrevi nesse texto.
Respiro fundo ao terminar de escrever, me sinto aliviada. Fecho os olhos. E como uma amiga me disse um dia: você tem uma capacidade incrível para matar e ressuscitar o amor por um determinado homem. E, de repente, me sinto ressuscitando mais uma vez esse amor que sinto há dois anos de uma maneira descompassada, desequilibrada, ineludível simplesmente porque que ele teve a audácia de se entregar profundamente a mim.
E agora leio o post anterior, dizendo que já não podia te amar. Mas é inevitável.


Ana Lúcia Nunes de Sousa
20 de dezembro de 2010