terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Em cada parte de mim ou meu homem perfeito



Em cada parte de mim, eu levo um pedaço teu. Fecho os olhos, e posso sentir um cruzar de olhares e sorrisos. E, de repente, é como se eu sentisse um abraço teu novamente. No fundo, o homem ideal, pra mim, seria uma mescla de todos os que passaram pela minha vida e foram importantes.
No pulso, levo uma pulseira que me presenteou D.F, quando, doente, eu cuidava dele. Na mochila, a bússola que me regalou F, quando lhe dizia o quanto me sentia perdida no seu país. No coração, levo sempre a certeza de que H vai sempre estar aberto pra receber meu amor. E quando me deito, nua, na cama, tenho a certeza de que com J aprendi muito. Guardo o sorriso de todos e a felicidade que todos me deram, que trocamos.
A mistura perfeita teria: o cuidado de D.F, a sinceridade e a decisão de H, a militância e a decisão revolucionária de F e o sexo de J.
Sorrio. Foi a dor. Estou começando a achar que essa história de sofrer por amor vai me trazer bons frutos. Começo a retomar minha paixão por pensar e escrever sobre as futilidades tão essenciais da vida: os sentimentos e as emoções. Me acalma e me faz feliz relembrar o quanto, sim, amei e fui amada. Nem pareço mais a mesma de ontem. Ontem, sofrendo por F, reli as cartas de D.F, revi minhas fotos com H, e falei com J (a conversa foi, digamos, bastante recordatória....). E, de repento, percebo, como exagero tudo, o amor e a dor. Mas, no fundo, exagerar a dor encurta sua visita ao meu coração. Talvez não seja tão ruim assim. Exagerar o amor é mais complexo, passa a amar tudo e todos. Complexo, mas não ruim. Acho que se tem um defeito do qual eu gosto, do qual eu me orgulho, e que cultivo com muito carinho é meu jeito exagerado de ser. Nada que não seja exagerado serve pra mim.
Estou, agora, exageradamente atrasada com minhas malas. Estão aqui, olhando boquiabertas pra mim. A alma boa de Se-Chuan aberto, esperando terminar de ser lido (sugestão de leitura de F) e ouvindo Tribalistas (dos quais gostava H). Foi.

21 de dezembro de 2010
16h09
Buenos Aires, Argentina

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pra sentar no banco da praça e viver de novo um grande amor


Aqui, pensando com meus botões outra vez. A cabeça, meio ao vento. O coração, sem entender, não sabe se estraçalhado ou se foi só um arranhão. Mas não importa. Agora, a única solução que vejo para acalmar o espírito é escrever.
Às vezes fico pensando no que é que move os seres humanos em suas relações com o outro. Nós, humanos, inventamos tantos nomes e teorias pra explicar os sentimentos, mas, na maioria das vezes não sabemos vivê-los. Simplesmente não nos deixamos, não nos permitimos amar. E AMAR, é sofrer, por quê não? Quem de vocês pode dizer que sempre amou e foi amado? Quem nunca passou pela dor da rejeição? Não sei se é exatamente uma dor, talvez seja apenas um desconcerto, um desentendimento. Eu tenho sérios problemas com a noção de dor. Até alguns meses atrás dizia que nunca havia sofrido por amor e que nunca havia chorado por nenhum homem. Até que eu chorei. Até que eu sofri. Sofri uma semana. Vivendo essa dor e querendo arrancá-la à força de mim, queria escutar a voz dele dizendo que não dava. Mas quando liguei, çoele disse que me amava. Um estranhamento total. E engraçado como essas histórias voltam a se repetir tão rapidamente e tão estranhamente. No fundo, parece que todas as nossas relações amorosas são muito parecidas e daí, talvez, venha o meu depreço pela relação homem-mulher amorosa. Deprecio, mas desejo ardentemente. Sim, pode chamar de contradição, de paradoxo, do que queira. Se me perguntam o que prefiro, vou sempre dizer que prefiro ficar sozinha e não amar homem nenhum. Mas meus olhos, meus ouvidos, meu coração, minhas mãos não sabem disso. Eles siguem querendo amar e só amar. Amar até morrer de amor. Eles não tem ideia do quanto amar dá trabalho.
Meu exagero já é figurinha conhecida entre vocês, amigos, certo? Acho que deve ser uma tarefa realmente difícil gostar de mim. E, vou contar isso pra vocês em segredo, tudo bem? O meu maior medo é de não ser amada. Mas acho, realmente, que é um medo que compartilho com a humanidade. E falo do amor de uma maneira geral. Quem não gosta de receber um abraço gostoso? Um carinho, um mimo? Quem não gosta de ouvir alguém gritando “EU TE AMO”, “EU TE ADORO”! E quando penso nisso, acho que nenhum homem me disse isso verdadeiramente. Lembrem que sou exagerada, tá? Mas às vezes, sim, acho isso mesmo. Parece que depois que acaba todo soa muito falso. Lembrem-se do parágrafo anterior (o depreço por esse tipo de relação amorosa). Mas sou muito feliz quando me lembro da minha constelação de amigos. E choro desesperadamente, não vejo a hora de pegar o avião e poder gritar de novo “EU TE AMO”, “EU TE ADORO”!, de ficar de bobeira conversando sobre nada, fico pensando se há algum sentimento mais doce e mais importante do que o da amizade. Porque um amigo nunca te diz “estou ocupado”, o amigo sempre dá um jeito e cuida de você. Ah, amigos, sinto muito demais da conta a falta de vocês aqui. Com vocês, não falta nada.
E o amor, e os homens? Não sei. Acho que sou muito boa pra ser amiga de homem, não pra ser mulher. Mas a vida me pede outra coisa, me pede pra viver, pra arriscar, pra tentar uma e outra vez mais. Porque os amigos estão aí pra secar minhas lágrimas e pra me amar. Homem é pra me fazer sofrer.
Meu exagero chega a ser cruel. Relendo o que acabei de escrever, me lembrei de uma carta que recebi de um ex, há quase um ano:
“T quiero porq cuando tengo noticias d ti o una simple correspondencia mi dia cambia, se hace menos gris q cuando comenzo, eres esa razon q no tiene sentido pero aun asi estremece mis sentidos, y me pregunto si es q son mis sentimientos, saber q alguien a distancia me extraña y piensa en mi me es muy grato, es como poder ver el verde d una hoja q cae para volverse ocre. T quiero por q aunq yo no me importe se q t importo y estas ahi, pero siento como si estuvieras aqui, no t escribo esto para hacerte sentir mal y distante, o porq no estoy junto a ti, solo para q sepas q aun vagas por mis pensamientos y y decirte lo maravillosa q eres, porq tu puedes cambiar mi dia, y aunq ha pasado ya bastante tiermpo para mi todo ello es como si fuese ayer. (D.F, 23/04/2009)

Sim, tudo é como se fosse ontem. Ainda posso me lembrar do sorriso de D.F e da sua maneira de cuidar de mim. Por mais que já não tenhamos notícia um do outro, acho que sempre ficará marcado em nós o que vivemos. E isso me conforta. Eu realmente escrevo na lógica reconfortante e esperançosa do humanismo. A história, claro, sempre precisa ter um final feliz. Mesmo que o feliz, no caso desse texto, seja pensar que talvez, alguém, um dia chegou perto de me amar e, principalmente, me fez muito feliz enquanto estivemos juntos.
E aí, posso sonhar, posso imaginar que amanhã vou caminhar de novo pelas ruas, sentar no banquinho daquela praça e tomar sorvete como se isso fosse a cosia mais fantástica do mundo! Depois, pensar que estou, de novo, insensatamente, vivendo um novo e grande amor, como se nunca houvesse pensado o que escrevi nesse texto.
Respiro fundo ao terminar de escrever, me sinto aliviada. Fecho os olhos. E como uma amiga me disse um dia: você tem uma capacidade incrível para matar e ressuscitar o amor por um determinado homem. E, de repente, me sinto ressuscitando mais uma vez esse amor que sinto há dois anos de uma maneira descompassada, desequilibrada, ineludível simplesmente porque que ele teve a audácia de se entregar profundamente a mim.
E agora leio o post anterior, dizendo que já não podia te amar. Mas é inevitável.


Ana Lúcia Nunes de Sousa
20 de dezembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eu também sofro por amor

Todos os dias pensava em como eu te amava, em como você me completava.
E por mais que você estivesse longe, isso me fazia bem. Me fazia sorrir.
Eu olhava ao meu redor, e todos eram tão pequenos perto de você.
Aos poucos, essa sua presença certa na minha vida, foi ficando cada vez mais longe.
Eu já não podia sentir teu cheiro, ouvir tua voz e meu coração foi ficando apertado, deixando de bater.
O amor, eu sempre achei isso, eu invento. Inventei meu amor por você. É certo que havia materialidade na qual me apoiar. Fatos concretos. Mas como explicar fatos concretos aos sentimentos? Eu inventei esse amor e o vivi por um ano e dez meses.
Agora, eu preciso que ele vá. Eu preciso des-inventá-lo.
Nunca me doeu tanto fazê-lo. E eu sinto que talvez esse processo não seja tão fácil quanto os anteriores. Pela primeira vez, dói profundamente.
Mas a vida aqui me chama.
É primavera e já vem o verão.
Eu te amei muito.
Desculpe, mas eu já não posso mais.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Novas divagações sobre o amor, no dia que faço 25 anos

Quem amo?
Me faço essa pergunta às vezes e não tenho resposta.
Me lembro das pessoas que achei amar, das pessoas que amo.
No caso dos meus amigos, da minha família, tenho a impressão de que sim, amo os e tenho tanta certeza disso que logo se vão das minhas indagações. As coisas, situações e histórias que amo, também. Viram fumaça.
A preocupação passa a centrar se nos homens que amei.
Faço 25 anos hoje.
Se morresse hoje, poderia dizer que amei três homens. E o pior é que me confundo nos tempos verbais. Não sei se são pretérito perfeito ou imperfeito. Não sei são presente. Gostaria que fossem futuro do presente, nunca futuro do pretério.
Às vezes tenho a impressão de que, na verdade, nunca amei nenhum dos três. Amei, talvez, o fato de amar. E amo as lembranças que tenho de cada um. Das ruas de La Paz, o prédio de Mujeres Creando, dos abraços, do cuidado. Assim como caminhar pela Lapa e por Santiago, escutá-lo tocando. Assim como amo as praças de Buenos Aires. Minha sorte é que não preciso escolher. Apenas viver. Uma vida onde não nos entregamos à simplicidade de viver um amor, sem muitas complicações, não é uma vida. É vegetar. É o amor quem nos tira da condicão de meros mortais. Tudo passa a outro nível de significação, os signos tornam se mais complexos. Essa impressão boba que temos de que vamos amar aquela pessoa a vida inteira. E vamos. Mas vamos amar a outras também. Sempre. Todos os dias. E é sempre assim. Levamos nossa vida tranquilamente, sem grandes sustos, até que um dia um alguém sem muita graça aparente, nos leva a uma existência superior. Nos faz sentir que flutuamos, que somos alguém mais na multidão, nos faz sentir que os minutos não passam e coisas que eu nunca parei pra pensar. Vou pedir ao meu próximo amor pra dar um tempo e pegar meu caderninho de notas. Preciso anotar tudo, talvez assim entenda melhor o amor. Mesmo que eu sempre diga que eu não me preocupo em entendê lo, apenas em viver, em sentir.
Mas meu pensamentos de divagação precisam ir. Tenho um roteiro pra escrever. Um filme para analisar. Já perdi a conta das leituras e das monografias do Mestrado. Morreu Néstor Kirchner, as coisas aqui vão se complicar, acredito. Hoje é dia de Censo. Escuto Cássia Eller. Olho pra tela do computador, pros textos na cama. Só queria um beijo numa praça e uma mão no meu pescoço. Eu deixaria tudo pra ir a Santiago e a Chicago. Pra La Paz não, tenho medo. Sinto que posso flutuar e não sei quem amo mais. Vou voltar pra vida real. Vamos lá, analisar Reconstruction, de Christoffer Boe. Mas o amor, será sempre meu. Minhas lembranças ninguém pode roubar. Só o tempo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Eu sou o completamente outro ou para a página do meu diário

Tantas coisas tenho para dizer sobre isso que me custa começar. E isso, por vários motivos, pela língua (me mezclan los idiomas, la lenguas....), por la necesidad de escrever, de colocar para fora, de cuspir todas a reflexões que Derrida ocasionou em mim. No sé, todavia, no se trata de uma reflexión filosófica. Eu diria, antes, que são reflexões espirituais, internas, emocionais. Não me preocupo com os conceitos, exatamente. Mas, com o que os conceitos (nada conceituais) de Derrida me fizeram, me fazem perceber, perceber o estado atual das coisas.
Bem, eu, somente aqui na Argentina, me percebo como brasileira. Exatamente pelo não reconhecimento por lo cual paso aqui. Eu não me vejo pelas ruas e, pela primeira vez, me doy cuenta do que é o Brasil, pela falta dele. A verdade é que eu não compreendo e não aceito, convivo, com a cultura vigente aqui. Porque aqui não me reconheço, não me reconheço nesta cultura (falo de Buenos Aires estritamente e talvez de um ambiente nada muito favorável, como Faculdade de Ciências Sociais e ruas centrais).
E tampoco eles se reconhecem em mim. Aqui eu sou a estrangeira. Eu sou a outra, a completamente outra. E, pior, sinto a repulsa deles em relação a tudo o que eu sou, a tudo que sempre tive orgulho de ser. Sinto que não há, nenhuma, nem a mais mínima, vontade de aceitar o meu jeito de ser.
Aqui eu sou a puta, a fora da lei, a extravagante. E tudo isso por algo que é tão banal e básico em nossa cultura, em nossa forma de viver. Tudo isso pelo olhar, sorrir e falar. Eu olho, sorrio e falo. A tudo, com tudo e para tudo e todos. Sem discriminação. Quase sempre sem maiores interesses. Fazemos isso automaticamente. É como se nossos músculos faciais estivessem programados para sorrirem quando olham uma pessoa. E, antes, nossas pupilas, programas para olhar GENTE. E pior se falamos de outras coisas, da nossa maneira tão feliz de mirar e viver la vida, apesar de tudo. Nós precisamos cantar. E me olham, quando fazem iso....como se eu fuera uma criminosa. E me temem. Creio que temem que a leveza e o sorriso contagie a cultura deles. Manche a cultura deles.
Derrida fala da hospitalidade incondicional. A sorte é que essa hospitalidade é sempre uma promessa. Porque, na carne, não posso dar e nem sentirla.

22 de julho de 2010. Por volta das 21h. Em meio a aula do Mestrado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Salut, Salud, Saúde: viva o grande amor!

Tem dias em que eu acordo acreditando que sim, que vou viver, de novo um grande amor. E, me lembro, com carinho, dos grandes pequenos amores que vivi. Sim, foram grandes pequenos amores. Grandes, porque intensos; pequenos porque não duraram muito (nao vou contá-los aqui no blog porque sou uma pessoa muito, mas muito discreta). Mas o que importa, sempre, é viver.

Penso na dor ou na incompletude de alguém que nunca tenha vivido um grande amor. Desses que nos fazem perder a cabeça e deixar tudo, tudo, para vivê-lo. Por isso, este post, é em homenagem a duas amigas que tiveram a coragem de viver um grande amor, talvez o maior da vida delas: a brasileira Lídia Amorim e a chilena Cláudia Campos.

Chicas, eu me sinto orgulhosa de vocês e, sinceramente, sinto uma pequena invejinha. Meu coração palpita só de pensar em viver um novo grande amor. E há que viver-lo, sem medo. Eu sempre digo, precisamos ir lá, viver, sentir, amar muito, e se quebrarmos a cara, consertamos, colamos, fazemos cirurgia plástica, mas precisamos viver (lembra disso, Lídia?).

Um dia sem amor, para mim, é um dia que não existe. Eu não existo. Não me sinto viva. Preciso, sempre, amar, algo ou alguém, e se eu conseguir, tudo e todos. Há quem pense que isso é carência ou incompletude, pode ser, não me importo, meu negócio é amar, é me sentir meio boba, flutuando, sorrindo e cantando à toa. E isso acontece, gente, muito.

Para quem tem muita dificuldade, tome uma boa cachaça de salinas, comece a sorrir mais, olhe-se no espelho e diga – primeiramente - que se ama, ouça canções de amor, fale de amor e faça amor. Faça muito amor. Até cansar. Até não aguentar mais. Ame.

Cláudia e Lídia, gracias. Gracias pela coragem de deixar tudo e de mudar de país e de vida para viver um grande amor.

Buenos Aires, 15 de julio de 2010. 13h14. Em meio a leitura de Espectros de Marx. O amor me estala. Acho que devo amar Marx e a necessidade urgente da revolução.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Se hay noche, hay fiesta

Tá, vocês estão assustado, eu sei, eu nunca fui muito baladeira. Mas estou, realmente, com vontade de fazer este experimento sociológico. Eu sempre digo brincando que vim pra Buenos Aires fazer Mestrado e que pesquiso promiscuidade com metodologia participante. Quem sabe não é a hora de colocar isso em prática?
Mas, meus caros amigos, ainda falta muito pra que eu chegue nesse nível...Mas estou muito feliz por começar a esperar alguma coisa de um sábado à noite. No último sábado, finalmente, me senti bem. Bem, como nos sentíamos nos boliches de La Paz, se lembram? Eu bebi, dancei, curti muito, numa festa muito boa e.........., o melhor, na casa de um amigo argentino. Acreditam? Podem acreditar, mas é um dos únicos. E o melhor de tudo, das cerca de 300 pessoas que haviam ou passaram pela festa, calculo, nem 10% eram porteños. Mas um motivo pra festa ter sido boa. Bem, a festa foi uma despedida para o Nico e a Loli, franceses que estavam fazendo intercâmbio aqui. Festa à fantasia com nomes começados com S.....
Pra finalizar, deixo uma frase do Nico, que tá estampada na casa: Se hay noche, hay fiesta.

Desisti!

Não se assustem, meus amigos.
Eu não desisti de viver em Buenos Aires. Alguém, por acaso, esqueceu que eu sou casca grossa? Claro, por dentro, coração derretido, morrendo de saudade de todos vocês, de compartilhar meus comentários mal educados e picantes, e principalmente, os sonhos.

Eu estou re-vivendo a fase samba, da qual, na verdade, nunca saí. Mas, agora, que estou aqui, ouço e canto de uma forma diferente. Eu lembro das nossas noites sambando, fosse em Condor Iquiña, no Chop 10 ou em qualquer outro lugar onde desse para sambar um pouquinho. “Eu quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba....”. E, eu peço, somente, que Pachamama não permita que eu morra sem voltar pro meu país, sem poder sambar outra vez.

Mas, tô desviando o assunto, só para variar. Que jornalista (será?) mais prolixa....

Do que eu desisti? De viver rodeada por argentinos.
Primeiro, explico. Eu estou aquí desde abril, exatamente 10 de abril. E ainda não consigo entender e aceitar a cultura, o modus vivendi, ou as formas de sociabiliade (eu passei a semana lendo “Cuestiones fundamentales de Sociologia, de Georg Simmel....é hilário, e esse conceito é um dos conceitos trabalhados no livro, mas ele estuda até paquera, achei genial...). No começo, tentei manter-me longe dos brasileiros, queria ter amigos daqui, mas agora vi que meus compatriotas são o melhor povo do mundo. Não posso viver longe deles!

Explicando.....

A maioria das pessoas aqui, como havia comentando num post anterior, não se olha. E isso é chocante para nossa cultura tão zoiádora. Mas bem, além disso, confirmei a maioria dos pré-conceitos que tinha em relação aos hermanos.

E a confirmação veio, não somente do meu poder sociológico de observação participante, mas da boca deles, já que os que se tornaram meus amigos, assumem essas “características”.

E o quais seriam estas características? Eles são muito mal humorados, tenho a impressão de que já amanhecem “cagados” (expressão que usei muito na Bolívia e incorporei ao meu vocabulário, seria a tradução do nosso “enfezado”) e me pergunto porque carajos saem de casa.....ou por que é que nasceram.

Depois, a velha piadinha de “Vá a Buenos Aires e volto rico: compre um argentino pelo que vale e venda-o depois pelo que ele pensa que vale” (ai, isso me faz recordar do Cap. I do Capital: a mercadoria.....que li no mês passado, mas vou me abster de comentar....). Eles realmente se acham. São arrogantes, propotentes e brigões. Tenho impressão, às vezes, que o esporte nacional é brigar porque qualquer coisa. No Guia de ruas de Buenos Aires, eles inventaram: o doce de leite, a caneta, o transporte urbano (!), etc. Mas o mais uff de tudo foi ouvir que os argentinos inventaram a sociologia (durante minha aula de Sociologia da Cultura no Mestrado). E eles se acham os europeus do continente. Afinal, eles tem um cultura rebuscada, vão a museus, cinema, teatro, blábláblá.

Bem, esse é o retrato das pessoas mal humoradas, das quais desisti. Das quais quero manter a distância máxima permitida e manter somente as relações que forem realmente necessárias. Mas, felizmente, aqui é um lugar onde se encontra de tudo e para todos os gostos. Aqui, também, não posso reclamar, já encontrei pessoas maravilhosas que me ajudaram muito. E adorammmmmmmmm o nosso “jeitinho” brasileiro. São muito amáveis e hospitaleiros. E, muitas pessoas que eu definia como “mal humoradas” conseguiram transitar na minha escala de sociabiliade e se transformaram em pessoas queridas para mim. Eles são como nossas castanhas, primeiro precisa quebrar a casca dura e porosa para depois chegar no que é realmente bom. Mas, um dia, quem sabe, poderão aprender com a gente que “reclamar só das rugas” e que sorrir é o melhor tempero para a vida. Por isso, eu sigo, ando pelas ruas sorrindo como boba num frio insuportável e digo “Hola” pra todo mundo que me olha, do mendigo, traveco, ao Doutor.

10 de julio de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

¿Por que me miras, boludo?

¿Por que me miras, boludo?
Esta seria a resposta básica de uma mulher argentina quando percebe que um homem está olhando para ela. É, aqui é muito estranho, pode dizer. Acho que uma das coisas das quais tenho mais saudade é olhar e ser olhada. Eu olho aqui, óbvio, faço questão, mas é diferente.
Pelas ruas de Buenos Aires, as pessoas caminham olhando para o chão ou para algo que não é você. Olhares não se cruzam. E quando se cruzam, muitas vezes se sentem ofendidos. Pelo menos esta é a impressão que eu tenho.
Bem, eles não entendem quanta poesia existe em olhar. Olhar e ser olhado. Em como, de repente, você pode sentir algo muito bom ao cruzar teu olhar com o de um velhinho e abrir-lhe um sorriso amável. Peraí, sorriso? Sorrisos na rua são proibidos. Eu tenho minhas teorias, acho que é o frio e a falta de sol.
O que seria da bossa nova sem o olhar?
Já dizia Tom Jobim:
"Esse seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar"

Bem, pra quem espera uma postura minha a respeito, conto o que faço. Eu olho, olho mesmo, com aquele olhar examinador que fazemos no Brasil, como quem examina a pessoa da cabeça aos pés. E é muito divertido ver como as pessoas se assustam. As putas e os travestis que trabalham aqui ao lado de casa, sorriem e eu digo como estan hermosas.....

Bem, vou continuar caminhando e olhando. Olhando muito. Não vou perder esse costume tão gostoso da nossa terra.

Como é viver a Copa do Mundo na Argentina....

Bem, atendendo a pedidos, explico como é viver o clima de Copa do Mundo na Argentina. Rapidamente, até porque agora que nos fudemos geral (nosotros y los hermanos) esse post já é pretérito perfeito.

Aqui eles são sim muito viciados por Futebol. Talvez possamos comparar à paixão brasileira pelo esporte. Atualmente o esporte nacional é o Pato (http://www.pato.org.ar/), mas há uma campanha para que o futebol tome o posto de deporte nacional.
Para a Copa, foi montado um verdadeiro espetáculo. Dois telões gigantes foram colocadas nas duas principais Praças da cidade e os bares ficavam lotados. À exemplo do Brasil, muitas lojas, escolas, etc, mudaram os horários de funcionamento. Porque, claro, a Argentina ia ser campeã...
Eu bem que queria que fosse, talvez assim eles ficassem melhor humorados....
Mas bem, até as quartas de finais, eles torciam para gente, torciam pra eles, tudo lindo, somos hermanos y blábláblá...
Mas eis que chegam as quartas de final e começa a aparecer a possibilidade de uma final Brasil e Argentina. Então, os hermanos passam a mostrar a verdadeira cara e incham contra nosotros. Eu estava na cova do leão. Vendo o jogo Brasil e Holanda na Praça San Martín. No intervalo do jogo, sambamos felizes. Era a quase certeza do hexa. Mas se o mundo gira, o futebol então...
Quando a Holanda vira o jogo, os hermanos saltam felizes e sambam. Pelas ruas, ao final do jogo, buzinaços e por onde eu passava me diziam "nao fique triste, inche para nosotros ahora"....e eu só respondia "vamos ver o jogo de amanhã, ok?". Chegaram ao cúmulo de me dizerem "o Brasil ter saído da Copa é melhor do que nós ganhemos o Mundial" e me encheram o saco (llenar las pelotos o los ovários en buen argentino) o dia inteiro.
Mas, ah, sinceramente, lhes fizeram bem um dia de alegria. Porque o que veio no dia posterior foi pior. Nem um pio. Ninguém nas ruas. Um silêncio mortal. É, a Argentina está fora. E por 4 a 0. Bem feito.

sábado, 3 de julho de 2010

Latinoamérica, finalmente!

Bem...
Esta é a primeira postagem, 03 de julho de 2010, desde que criei o blog, três meses atrás. Isso, por vários motivos. Talvez o mais importante deles seja o meu próprio desleixo com a vida blogueira. Mas houveram também outros problemas, como o fato de ter comprado um computador que chegou dois meses depois de ter sido pago, o Mestrado que tá me matando, e mais um monte de coisas....Mas vou tentar manter o blog atualizado, pelo menos uma vez por semana. Assim, meus amigos que estao em vários lugares do mundo poderao acompanhar minhas aventuras...

Hoje, eu estou em Buenos Aires. O Brasil foi eliminado da Copa ontem. A Argentina hoje. Eu escuto um samba. Passei um dia fenomenal na Organizacao Barrial Tupac Amaru, finalmente comecei minha investigacao do mestrado. Me sinto tranquilamente feliz. E se tratando de mim, isso é muito raro. Minha felicidade nunca é tranquila. Mas anda sendo. Vamos ver até quando.

Eu tenho tanta coisa pra contar, mas vou tentar ser cronológica. Acho que a primeira coisa importante para esse blog é explicar como vim parar em Buenos Aires. O meu desejo de estar por aí, por latinoamérica era ardente, e me matava cotidianamente o fato de nao poder realizar o que queria. Nos momentos de maior loucura, acaba escrevendo algo....
Hoje vejo o mundo em amarelo
Já houveram dias azuis e outros verdes
E sinto minha necessidade de amar latente
É tão forte que incomoda
Que dói , sangra e mancha meu tapete
Enfrentar os medos e viver
Não há caminho alternativo
Os senderos estão claros
Eu sei que preciso sair
Gosto de ver o sol
E de sentir o gosto salgado do mar
É, eu sei, eu preciso viajar
Aquela índia que me chamou da outra vez voltou
Me tocou e me disse pra viver
Pra tomar chá no Suriname
Pra morrer de frio no Yuni
E pra correr pelo Atacama
Essa lágrima insistente não cai
O coração é duro e grande
E cabe tanta coisa que a cabeça não entende
O meu sorriso só vem com o sol
Um sol de latinoamérica
Eu preciso ver nascer.

05 de fevereiro de 2010
Isso foi em 05 de fevereiro. Mas a vida muda....e eu agora estou em latinoamérica!
Eu sei, talvez no país menos latinoamérica de latinoamérica, mas estou.
Ganhei uma bolsa de mestrado do governo argentino e vim fazer o mestrado na Universidad de Buenos Aires. Maestría en Comunicación y Cultura. Bem, na verdade, mestrado em sociologia até agora. Tenho 14 disciplinas, me sinto fazendo outra faculdade, mas enfim, nao vou reclamar de nada por enquanto. Eu já nao reclamo (viva a fibromialgia!).
E desde que cheguei aqui muita coisa na minha vida mudou. Mas isso é história pro próximo post.
Foi meio desorganizado e será até eu colocar tudo em ordem, já que é muita coisa°